sábado, 10 de maio de 2008

A Minha Vozinha

Malditas são as datas. Só trazem malefícios à mente, ao caráter e ao desenrolar de nossas vidas. Datas nos organizam, nos dizem quanto velhos somos, nos ditam quando devemos fazer as coisas; somos escravos delas.

Toda criança espera avidamente por datas como o Dia das Crianças, Páscoa, Natal, Aniversário. Até certa idade a inocência carrega consigo uma magia , na qual a criança sonha em ganhar um presente, ter uma festa, um bolo bonito do seu personagem de desenho favorito, que, dizendo-se de passagem, mudou muito nos últimos anos, pois crianças não tem mais festinhas e sim super-produções em salões de festas em que praticamente não há interação e proximidade entre as crianças, apenas uma diversidade de aparelhos eletrônicos que enchem os olhos e fazem a magia da mente infantil se perder. Duvido que as crianças hoje sentem no chão pra assistir e rir das brincadeiras de um humilde palhaço. Porém, ainda devem haver pais que não se tenham corrompido. Agora, dependendo da criação (que não depende apenas dos pais, mas também dos amigos com quem convive) a criança está sempre buscando ganhar e ganhar e ganhar, pouco ligado para o que já obteve. É o Playstation 3, Weee, isso, aquilo. Quando eu era pequeno eu queria um trenzinho grande que vinha com trilhos e você andava em cima dele dando voltas no meio da sua sala. E comparativamente era muito mais barato que um vídeo game. Ou seja, você sonhava com aquilo, não era uma "coisa" que você queria ter, era um verdadeiro presente, daqueles que você continua gostando depois de ganhar o próximo.

Outra coisa que me incomoda bastante não é em si o fato de as pessoas ficarem tristes ao se lembrarem de um ente querido que já se foi e deixou saudade e sim o fato de ficarem mais tristes perto da data. Qual é o sentido disso? Essas pessoas não se questionam? Não que não tenham direito, o problema é que isso é bastante prejudicial tanto à própria pessoa quanto aos que estão ao seu redor. "Bom, estou me sentido mal, posso ficar doente por causa disso e estragar o descanso dos meus familiares, então vou pensar racionalmente e perceber que não adianta ficar triste e sim lembrar de todas as situações boas e felizes que a lembrança permite". Eu acho que estou querendo um mundo perfeito... Eu imagino o quão triste deve ser perder uma mãe, um pai, que no início deve ser a pior dor do mundo. Mas, analisando friamente, não tem volta e portanto tenho de aceitar. A pessoa não iria querer que você sofresse por ela. Que tal esquecer todos os momentos finais que renderam muitas lágrimas e lembrar da convivência?

Minha avó está em paz e a amo muito mesmo, muuuuito. Porém não quero lembrar de sofrimento, de momentos ruins e sim dos banhos de bacia que ela me dava quando tinha 5 anos. Do sorriso terno, da gargalhada feliz, da bicicleta vermelha que me deu, dos bolinhos de chuva! Que essa lágrima que [realmente] acaba de pingar no teclado seja uma lágrima doce de uma pessoa feliz que guarda belas lembranças da agradável senhora que me fazia rir e me sentir seu netinho.

Quanto ao querido "Seu Zé", que todo essa angústia seja revertida a uma força que o sustente forte por muitos e muitos anos. Que meu avô perceba que tudo que ela mais queria era sua felicidade e não seu sofrimento, pois este já houve de sobra. Rendo então esta homenagem em forma de desabafo a minha vozinha que amo tanto não porque amanhã é Dia das Mães, nem porque meu avô passou mal e sim porque há tempo não expunha o que sinto da forma que mais me agrada; escrevendo. Deus os abençoe.

Natália Fonseca Ramos dos Santos [1916 - para sempre].


Gustavo (Chicaum)